NATAL: CRISTO É A NOSSA PAZ!
“Glória a Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz a todos por ele amados!”
(Lc 2, 14)
![]() |
Imagem: padrepauloricardo.org |
Em
retrospectiva, voltando os olhos da razão e do coração para o que vivemos, no
Brasil, em 2019, ocorre-me, insistentemente, a ausência e o clamor pela paz. A
paz não parece realidade singular, mas plural, que se desdobra em tantas
ramificações que não se contradizem, mas se encontram e reencontram no coração
e na mente da pessoa humana. Nesse ano que vai caminhando para o ocaso, faltou
paz, muita paz, para nós brasileiros.
Se a presença
ou ausência da paz é tão palpável e sentida, ao mesmo tempo, ela parece transcender
as realidades mundanas e históricas, situar-se num horizonte que é, ao mesmo
tempo, ponto de partida e de chegada. Tem
razão o Apóstolo São Paulo, ao escrever aos cristãos de Éfeso: “Cristo é a
nossa paz!” (Ef 2,14). Nosso Senhor Jesus Cristo é o porto da paz, ponto de
partida e de chegada. A paz não é um conceito, é uma pessoa.
A violência,
negação da paz, tem uma multiplicidade incontável de manifestações, algumas
assustadoras, marcadas por requintes de crueldade. Há formas de “violência
branca”, que se apresentam travestidas, disfarçadas, e que causam prejuízos
inimagináveis à pessoa humana e à sociedade, são manifestações do mal sob
aparência do bem. Os atos violentos, nas suas mais diversas expressões,
remontam também a uma fonte, são cristalizações do mal.
Estamos
exaustos da violência das armas de fogo ou brancas, estejam elas nas mãos das
polícias, das milícias, dos marginais, ou de simples cidadãos, usadas para amedrontar,
ferir ou matar, proposital ou despropositado. Não há um único dia no Brasil em
que não somos informados, em tempo real, dos efeitos danosos, letais ou não, do
uso dos mais diversos tipos de armamentos. Se num passado, a notícia parecia ser
de um acontecimento distante, hoje é o relato de fato ocorrido ao nosso lado.
No âmbito
doméstico, entre vizinhos, nas escolas, bares, ou em lugares e situações
inusitadas, é muito disseminada a violência física, viabilizada através do uso
dos membros do próprio corpo, sobretudo as mãos e os pés: surras, coças,
pontapés, murros, palmadas, escoriações, descabelamento, etc... , que também conduzem
a consequências graves, sequelas físicas e psíquicas, e até à morte. Não é
incomum que a violência física esteja associada a práticas racistas e
discriminatórias, contra minorias ou pessoas socialmente fragilizadas.
Há também uma
violência verbal, ou por imagens, ou até silenciosa, que está sendo potencializada
em grande escala pelos meios de comunicação social, sobretudo através das novas
mídias, que usam o recurso da internet. Ela estimula a polarização e o rancor,
dissemina o ódio e a animosidade entre pessoas e grupos, tornando vulnerável as
mais diversas expressões da sociedade, atingindo não só a pessoa singularmente.
Não poderia
esquecer de mencionar a auto violência, quando a própria pessoa é a agente e o
objeto da agressão. Ela não é somente fruto de distúrbios psíquicos e
psiquiátricos, mas também um “modismo” ou “cultura”, que vai se propagando
sub-repticiamente, como por exemplo, as mutilações praticadas pelos adolescentes.
Também devemos mencionar uma forma extrema, o suicídio, fruto do desespero, do
não saber esperar, de buscar um caminho que não é caminho para ver-se livre de
um tormento, insuportável para a própria pessoa.
Os sons, as
cores, os sabores, os odores do “natal comercial, social, institucional” não
são suficientes para abafar ou esconder as florestas de violência, com seus
múltiplos e variados frutos, mas todos danosos para a pessoa, as instituições e
a sociedade. No máximo, criam um ambiente de artificialidade, com propósitos
bem definidos de um “natal pagão”, que de tão insistente e massivo, parece ser
o único possível. E ele começa com
tamanha antecedência, depois do dia das crianças, que em 25 de dezembro já
estamos cansados e não vemos a hora de chegar o “ano novo”.
Nunca é
demais recordar que o Natal é de Nosso Senhor Jesus Cristo, 2019 anos de seu
nascimento, ocorrido em Belém de Judá. Ele é Deus, a nossa paz, que veio
trazê-la para todos: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Eu não a dou, como a dá o mundo. Não se
perturbe, nem se atemorize o vosso coração” (Jo 14, 27). Neste sentido, as palavras dos anjos aos pastores,
nos campos de Belém, ainda são uma profecia: “Glória a Deus no mais alto dos
céus, e na terra, paz a todos por ele amados!”(Lc 2,14 ). A paz é dom e resposta: dom de Deus a nós;
nossa resposta a Deus. Sejamos construtores da paz, vivendo em paz!
Um Natal
santo e de paz para você!
+ Tomé Ferreira da
Silva
Bispo Diocesano de São
José do Rio Preto/SP