12 de abril de 2019
Quero nesta manhã de espiritualidade da quaresma de 2019,
meditar sobre três estações da Via Sacra, uma vez que não é possível meditar
aqui e agora as 15 estações: Verônica enxuga o rosto de Jesus; Simão Cirineu
ajuda Jesus a Carregar a cruz; Jesus consola as mulheres de Jerusalém.
SIMÃO CIRINEU AJUDA JESUS A CARREGAR A CRUZ
“Enquanto levavam Jesus, pegaram um certo Simão, de Cirene,
que voltava do campo, e mandaram-no carregar a cruz atrás de Jesus”(Lc 23, 26).
No caminho do calvário, Simão de Cirene, se vê constrangido a
tomar sobre seus ombros a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Jesus estaria
demasiadamente cansado, abatido, sem força, depois de uma noite de flagelação? Simão
de Cirene não era de todo desconhecido, pois seu nome era lembrado. Era pai de
Alexandre e de Rufo (Mc 15,21). Ele foi obrigado a carregar a cruz? Ou foi ele
que se ofereceu para carregar a cruz?
Não temos a cruz de Jesus, mas temos muitas cruzes. Cruzes no
corpo, como as enfermidades e as doenças; cruzes na alma, como as debilidades
psicológicas; cruzes espirituais, como as tentações a que somos continuamente
submetidos. Temos ainda as cruzes inerentes ao nosso ofício de sacerdotes, de
cura de almas. Cruzes inerentes à nossa vida religiosa e consagrada. Cruzes. Dezenas
de cruzes. Centenas de cruzes. Nossas cruzes pouco ou nada se assemelham com a
cruz de Jesus. A sua cruz é instrumento de salvação. É uma cruz querida por
Deus. Uma cruz que é a medida do amor. As nossas cruzes são tormentos que
marcam de modo indelével a nossa vida, fruto da caducidade, da fragilidade e
dos nossos pecados.
Para nós, Jesus é o cirineu, que nos ajuda a carregar as
nossas cruzes. Para isso ele se fez homem. Em meio a tantas cruzes, Ele se
aproxima de nós e as toma sobre si. Ele não as faz desaparecer, como num ato de
mágica, mas as carrega conosco. Nunca estamos sós com nossas cruzes. Ele, o
Crucificado, está conosco.
Simão de Cirene caminhou atrás de Jesus. Com nossas cruzes
vamos também atrás de Jesus, pois ele não nos deixa extraviar, não nos deixa
cansar, não nos deixa perder nas encruzilhadas. Jesus à frente exerce um
“magnetismo” sobre nós, fortalecendo os nossos pés para caminharmos sempre,
ainda que a passos curtos.
A VERÔNICA LIMPA O ROSTO DE JESUS
“Ó vós todos que passais pelo caminho, olhai e vede se há
dor, semelhante à minha dor”
É este lamento que ecoa na sexta-feira santa, cantado pela
“Verônica”, enquanto desdobra a toalha com o rosto ferido de Jesus.
Diz a tradição que uma mulher de nome “Verônica” foi ao
encontro de Jesus, com uma toalha nas mãos e enxugou o seu rosto. E ficou
estampada na toalha o rosto sofredor de Jesus. Ela fazia parte do grupo das
mulheres que seguiam Jesus? Faria parte do grupo de mulheres que choravam no
caminho do calvário? Ou era uma desconhecida que se encontrava ali casualmente?
No rosto de Jesus, não havia apenas suor, mas também poeira e
sangue. A mistura destes três elementos com os ferimentos transfigurou-lhe o visual:
o mais belo dos filhos dos homens, transformou-se à semelhança de um verme, tão
desfigurado se encontrava.
Verônica ao contemplar esta situação não teve dúvida, passou
por entre os soldados e limpou e o rosto de Jesus. A recompensa pelo ato de
coragem foi a estampa impressa da sua face, a Sagrada Face.
Nosso coração é uma toalha que deve estar próximo de Jesus para
ter nele impressa a Sagrada Face. Só quem é próximo, quem é discípulo, seguidor
na vida, poderá ter impresso em si a Face de Cristo. A proximidade, a intimidade, a cumplicidade, a
amizade é que determinará termos ou não impressa em nós a Sagrada Face.
A intimidade espiritual com Jesus requer vida de oração e
caridade. Uma vida de oração que brota da leitura orante da Palavra de Deus, se
prolonga na adoração eucarística silenciosa, e tem seu ponto alto na Liturgia
das Horas celebrada diariamente pelo bem do Povo de Deus. A caridade que leva à
cumplicidade e amizade é o consumir-se por amor, nas tarefas próprias de nosso
ministério ordenado e da nossa vida religiosa e consagrada. Uma doação
cotidiana e sem reservas, saindo sempre ao encontro de Jesus, nos irmãos e
irmãs, que se transformam em nossos filhos e filhas.
Quando a Sagrada Face de Jesus está impressa em nós, ela se
torna visível aos que buscamos e com quem nos encontramos. Iluminados por ela,
iluminamos. Refletimos em nosso ser o ser mesmo de Nosso Senhor Jesus Cristo.
JESUS CONSOLA AS MULHERES DE JERUSALÉM
“Seguia-o uma grande multidão do povo, bem como de mulheres
que batiam no peito e choravam por ele. Jesus, porém, voltou-se para elas e
disse: ‘Mulheres de Jerusalém, não choreis por mim! Chorai por vós mesmas e por
vossos filhos! Porque dias virão em que se dirá: ‘felizes as estéreis, os
ventres que nunca deram à luz e os seios que nunca amamentaram’. Então
começarão a pedir às montanhas: ‘caí sobre nós!’, e às colinas: ‘escondei-nos!’.
Pois, se fazem assim com a árvore verde, o que não farão com a árvore seca?”
(Lc 23, 27-31).
Jesus é a árvore verde, nós somos a árvore seca. Ele, o
consolador, nós os consolados. Ele, o salvador, nós os salvos. No caminho do
calvário ele teve um tempo e força para dirigir-se às mulheres que batiam no
peito e choravam por ele. Pediu que não chorassem por ele, mas por elas mesmas
e seus filhos. Se ele sofria, sofreriam também as mães, um sofrimento tão
intenso, que seria melhor serem soterradas pelas montanhas ou escondidas pelas colinas.
Seria esta palavra uma profecia? Seria dirigida somente às mães, mas a todos os
discípulos, homens e mulheres?
“Chorai por vós mesmas”! Esta exortação é também dirigida a
nós, ministros ordenados, religiosas e consagrados. Chorai por vós mesmos!
Chorai por vós mesmos! As lágrimas são um dom. Chorar pelos pecados é uma
graça. É necessário pedirmos a Deus o dom das lágrimas pelos nossos pecados. As
lágrimas pelos pecados cometidos é sinal do verdadeiro arrependimento. Existem
lágrimas físicas e espirituais. Normalmente as lágrimas espirituais se
transformam também em lágrimas físicas. Embora, nem toda lágrima física seja
também espiritual.
Podemos e devemos chorar pelas nossas misérias e
fragilidades, que são fruto de nossa liberdade e de nossas escolhas. A
percepção das escolhas erradas, viciadas, o consequente arrependimento, nos leva
à lágrima. É a lágrima do amor arrependido, do caminho perdido, do desejo de
voltar e receber o abraço do Pai misericordioso.
A lágrima espiritualizada nos provoca também a vergonha pelo
mal cometido, a indignação por nós mesmos, a revolta por não correspondermos ao
amor com que somos amados. Deus nos conceda o dom das lágrimas, hoje e sempre.
+ Tomé Ferreira da Silva
Bispo Diocesano de São José do Rio Preto/SP
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