O pecado é uma realidade que nos
pertence enquanto construímos história no mundo, marca a nossa existência
histórica do começo ao fim. Não há
pessoa humana que não experimente, em algum momento de sua vida, o pecado:
“Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra” (Jo 8,7). Podemos
pecar contra nós mesmos, o outro, as comunidades a que pertencemos, a sociedade
e contra Deus. Não poucas vezes as estruturas que sustentam as sociedades estão
também permeadas pelo pecado. O pecado pode ser pessoal, comunitário, social e
estrutural, mas sempre passa pelo exercício da liberdade da pessoa humana.
Se de um lado ele abunda em nós e
entre nós, diminui cada vez mais a consciência pessoal, comunitária e social do
pecado. Pecamos e não sabemos, ou melhor, pecamos e não queremos saber que
pecamos. O pecado tornou-se habitual em nós e entre nós, cotidianidade, algo
encarado como normal. Anormal tornou-se não pecar. O que é uma ferida inserida
na pessoa humana pelo arbítrio humano, acaba por ser considerado uma
normalidade.
No projeto de Deus, o pecado não
faz parte da natureza humana, mas ele está tão socializado e arraigado em nós,
que até parece ser natural à pessoa humana. Ao perder a consciência do pecado,
perdemos também a capacidade de indignação e de luta contra ele. Assim, em vez
de adversários do pecado, tornamo-nos aliados do pecado, terreno fértil para a
sua propagação em nós, nas comunidades de pertença, na sociedade e nas suas
estruturas.
O pecado não é absoluto e irreversível,
ele não tem a última palavra, há solução para superá-lo em nossa vida, através
da prática da caridade, da participação na santa Missa e no sacramento da confissão.
A confissão, enquanto sacramento de cura, é o caminho ordinário para obtermos o
perdão dos pecados. Ao confessarmos, o pecado é vencido pelo mistério da
glorificação de Nosso Senhor Jesus Cristo, através da sua morte e ressurreição.
A palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitado aos apóstolos continua
atual no ministério dos sacerdotes: “Recebei o Espírito Santo. A quem
perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem os retiverdes, lhes serão
retidos” ( Jo 20,22-23).
Ao experimentarmos o pecado,
somos vencidos pela tentação do demônio, que se nos apresenta continuamente.
Cada pecado realizado é uma queda pessoal sob o influxo do tentador. O quanto
pecamos é a demonstração de quão presente o tentador se encontra próximo a nós.
O pecado é sempre um ato pessoal, consciente e deliberado, que acontece quando
dizemos sim à tentação. O pecado é uma demonstração da fragilidade e
susceptibilidade humana diante do espírito do mal.
A confissão é um percurso
espiritual que realizamos sob o influxo do Divino Espírito Santo, pois é Ele
que nos ajuda e predispõe para termos consciência do pecado, que nos leva ao
arrependimento, que nos faz confessá-lo, nos fortalece para a penitência
correspondente e nos permite reconstruir a vida sem nos deixar cativos do domínio
do tentador. Na vida do pecador arrependido que busca o perdão há sempre a
precedência da ação de Deus que vai ao encontro do filho desnorteado, porém não
perdido, pelo pecado cometido.
Buscar o sacramento da confissão
de modo habitual não nos faz menores, não é humilhação, mas ao contrário, nos
coloca no nosso “quadrado” de pecadores arrependidos, nos coloca no caminho de
volta para Deus, para o outro, para as comunidades e a sociedade. Não há tempo
melhor do que a quaresma para buscarmos o perdão de Deus no sacramento da
confissão, pois é um tempo penitencial, de conversão.
Confessado, sou uma pessoa
restaurada pela ação do Divino Espírito Santo. A graça divina, através da
confissão, reconstrói em mim, nos outros, na comunidade e na sociedade, o que
foi corrompido ou destruído pelo pecado. Absolvido, sou mais livre: livre para
ser amado por Deus, sem barreiras; livre para amar sem empecilhos.
+ Tomé Ferreira da Silva
Bispo Diocesano de São José do
Rio Preto.
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