DA UNIDADE DA FÉ À UNIDADE DA
VIDA PASTORAL
Os lutadores, no mundo
greco-romano, passavam óleo no corpo para se tornarem ágeis, para não se
tornarem presas fáceis do inimigo. Hoje, alguns atletas, levados pela ambição,
tomam composições químicas que potencializam sua ação, mas acabam
descaracterizando a beleza do esporte e sendo punidos.
Alegres, acolhemos de Deus e da
Igreja, nesta santa Missa, os “santos óleos”.
O Óleo dos Catecúmenos nos
convida a uma ação pastoral catecumenal, que efetivamente introduza o fiel na
vivência cristã.
O Óleo dos Enfermos recorda a
presença de Deus que consola, fortalece e cura o seu povo a caminho da
eternidade feliz.
O Óleo do Crisma nos coloca diante
de Nosso Senhor Jesus Cristo, o ungido do Pai. Ele será usado na unção do
cristão no batismo e na crisma; nas ordenações sacerdotais e episcopais; e na
sagração dos altares e das igrejas.
A bênção do Óleo dos Catecúmenos
propõe à Igreja, e a cada um de nós, a dimensão missionária da fé: fazer novos
cristãos, semeando a fé no coração dos não batizados; recuperar os que
acolheram a fé e não a desenvolveram; buscar os que acolheram a fé e não a
vivem comunitariamente; buscar os que acolheram a fé, mas ficaram ao longo do
caminho.
A ação missionária não depende exclusivamente
de análises e projetos, de encaminhamentos voluntários vinculados a uma pessoa,
segmento pastoral, movimento, associação religiosa ou nova comunidade.
A ação missionária é resultante da
confluência da ação do Divino Espírito Santo na vida do Povo de Deus e da
resposta do Povo de Deus às inspirações e moções do mesmo Espírito.
Ser missionário pressupõe o
encantamento com a pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo e, consequentemente, com
a sua Igreja.
Homens e mulheres desencantados com Nosso
Senhor Jesus Cristo, que perderam o brilho do olhar contemplativo no Cristo
glorificado pela cruz e ressurreição, que não mais são enamorados pela Igreja, que não são capazes de oferecer a sua
vida por ela, incondicional e irrestritamente, não só não serão missionários, mas serão agentes
dificultadores da missão.
O encantamento com a pessoa de Nosso Senhor
Jesus Cristo e com a Igreja é fruto da ação do Divino Espírito Santo em nós,
mas também é resposta do fiel. A ação do Espírito nunca falha, é sempre
garantida e certa, por isso não pode ser a causa da frigidez da vida
missionária dos fiéis e da Igreja.
A resposta do fiel à ação do Divino Espírito
Santo é obnubilada pela presença do pecado em sua vida. O pecado impede a
resposta do fiel, ou dificulta-a, ou faz com que ela não seja como poderia e
deveria ser.
Há anos ocorre uma
descaracterização e ou negação do pecado. Até mesmo, se poderia dizer, que
evita-se usar a palavra “pecado”, preferindo-se falar, quando se fala, em erros
e falhas. Parece que falar em pecado tornou-se algo politicamente incorreto na
Igreja e na sociedade.
A negação do pecado, ou a
tendência em reduzi-lo a qualquer outra coisa que não seja propriamente pecado,
é negar o mal, é negar a ação do maligno, é negar a história e a necessidade da
salvação.
A descaracterização do pecado é
agravada por uma tendência de julgar ou
atenuar o ato pecaminoso alegando
fatores de ordem psíquica, social e cultural, que dificultariam ou impediriam o
exercício da liberdade humana, bem como da vontade humana em deliberar, mesmo
após a inteligência detectar a verdade.
A liberdade humana não é supressa
por nenhum condicionamento, de qualquer natureza que seja este condicionamento.
Por maiores e mais incisivos que sejam os condicionamentos, sempre permanece a
capacidade da pessoa em dizer não ao pecado e ao tentador.
O fiel cristão não é ontologicamente escravo do pecado e de
satanás. Ele é livre, pela graça de Deus, em Cristo, para dizer não ao mal e
sim à vida da graça.
Se não existe pecado, se a pessoa
não peca, ou não tem consciência dele, não há necessidade da salvação, não há
necessidade de Nosso Senhor Jesus Cristo e, consequentemente, não haverá necessidade
da dimensão missionária da fé e da ação missionária na Igreja.
Só haverá missão se houver a convicção
de que a pessoa humana é pecadora, que o pecado está aí, entranhado na vida, no
coração, mente e vontade dos homens e mulheres e, por intermédio deles,
presente na sociedade, nas instituições e nas estruturas de todo tipo
resultantes da ação humana.
A perda da capacidade de
indignar-se contra os pecados sociais e estruturais, como a violência, a
corrupção, o roubo, o desrespeito à vida nascente e poente, está enraizada na
pessoa humana que tornou light, ou aboliu, o pecado, ou a consciência dele, em
sua vida.
Quem não se vê pecador, não terá
olhos para os pecados sociais e estruturais. Quem não se vê pecador, encontra
justificativas na sociedade e nas estruturas para continuar agindo como pecador
inveterado.
A pessoa humana precisa de
salvação, e esta salvação encontra-se única e exclusivamente em Nosso Senhor
Jesus Cristo, tal como é compreendido e guardado na Igreja, Mãe e Mestra. Para
nós, Nosso Senhor Jesus Cristo é o caminho ordinário da salvação.
O relativismo introduzido e
alimentado na Igreja, por algumas vertentes das ciências da religião, como
reflexo ou álibi da sociedade, procura mostrar, direta ou indiretamente, que
todos os caminhos religiosos levam a Deus. Que caminhos religiosos são estes?
Eles conduzem a que Deus?
Soa aos nossos ouvidos a palavra
de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém
vai ao Pai senão por mim” ( Jo 14,6).
A negação do pecado leva à
negação do inferno. A negação do inferno leva à negação do pecado. O pecado
existe. O inferno existe. Por isso, precisamos de Nosso Senhor Jesus Cristo e
de sua Igreja, que é a nossa Igreja, Católica Apostólica Romana. Precisamos da vida
missionária do fiel e da ação missionária da Igreja. E como faremos isso?
A ação missionária do fiel e da
Igreja deveria desenvolver-se de modo catecumenal, não com a exclusividade ou
primazia da dimensão informativa ou da dimensão existencial, mas na interação e
integração destas duas dimensões.
Apresentando Nosso Senhor Jesus
Cristo ao pecador, ajudá-lo a conhecê-lo e aceitá-lo. A aceitação só ocorrerá
se ele, pecador, tiver consciência de ser pecador e sentir a necessidade da
salvação, que não pode ser inventada ou criada por ele mesmo.
Despertar a consciência do pecado
na vida da pessoa é um passo sem o qual não se sentirá necessidade da salvação
em Cristo, e se não se sente necessidade de salvação, não se acolherá a Nosso
Senhor Jesus Cristo.
É preciso averiguar se a
dificuldade da missão, na vida do cristão e na Igreja, não tem raízes
assentadas no fato de que se perdeu a consciência da existência do pecado, e a
consequente desnecessidade do Divino Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo e, por
isso, todas as religiões são iguais, ou tanto faz ter fé ou não em Nosso Senhor
Jesus Cristo, ou tanto faz ter ou não uma religião.
A bênção dos óleos dos
Catecúmenos e dos Enfermos, e a sagração do óleo do Crisma, realizadas
anualmente, é garantia de que não estamos sós na ação missionária, a ser
desenvolvida de modo catecumenal, seja em nível pessoal ou comunitário. O
Divino Espírito Santo age em nós, como agiu em Nosso Senhor Jesus Cristo.
O despertar da consciência do
pecado implica recuperar o profetismo na sua dimensão de denúncia, reconhecendo
que a presença do pecado ocorre em nível pessoal, comunitário, social,
institucional e estrutural.
Os fiéis, ungidos no batismo e na
crisma, os sacerdotes e o bispo também ungidos na ordenação sacerdotal e episcopal,
não podemos deixar as pessoas serem contaminadas e dopadas pela química de que
não existe pecado, de que não há necessidade da salvação em Nosso Senhor Jesus
Cristo e de que todas as religiões são iguais.
Que o Coração Imaculado de Maria,
e São José, nos ajudem, como consagrados pelas ações sacramentais que
recebemos, a vivermos missionariamente a vida de fé, legado de Nosso Senhor
Jesus Cristo à Igreja.
+ Tomé Ferreira da Silva
Bispo Diocesano de São José do
Rio Preto/SP
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