
Ao mesmo tempo, vivemos na
sociedade da mutabilidade e do movimento, nada permanece por tempo razoável, há
uma sucessão interminável de versões de um mesmo fato, tudo caduca com rapidez.
A comunicação, visual e oral, é feita para pessoas em movimento, que aprenderam
a fazer várias coisas ao mesmo tempo.
Vivemos como pessoas inquietas,
irrequietas, incapazes de permanecer por um tempo bom em um determinado espaço
ou condição. Somos agentes e vítimas de uma dispersão física que provoca uma falta
de concentração da mente e do coração. Expulsamos a quietude e o silêncio da
nossa vida.
No ciclo litúrgico da Igreja, a
quaresma é um tempo que conclama os fiéis ao silêncio, exterior e interior. A
supressão das flores e dos adornos nas igrejas e espaços celebrativos, o
emudecer dos instrumentos musicais, a utilização da cor roxa, a supressão do
toque festivo dos sinos, a omissão do “aleluia” e do “canto do glória” são alguns
sinais litúrgicos de um tempo que deve
ser vivido no silêncio também, e antes de tudo, no dia a dia.
A ausência do silêncio na
quaresma é um sinal, entre outros, de que os católicos vão desfigurando e
fragilizando a identidade deste tempo santo que vai se tornando um tempo como
qualquer outro ao longo do ano litúrgico.
A diluição do sentido da
quaresma, com a perda ou esquecimento voluntário de seus sinais
característicos, acarreta uma inadequada vivência e celebração do Mistério
Pascal de Nosso Senhor Jesus Cristo na semana santa, no tempo pascal e no
restante do ano litúgico.
Convido os fiéis católicos a
retomarem o virtuoso hábito do silêncio, interior e exterior, como condição
necessária para uma saudável vida
espiritual. A quaresma é um bom tempo para começar a experimentar o silêncio
como companheiro inseparável de vida.
Nas celebrações litúrgicas,
sobretudo na Missa, mas também nas outras celebrações, é preciso recuperar o
tempo próprio do silêncio, por exemplo: no ato penitencial, após as leituras
ou homilia, no final da oração dos fiéis
e após a comunhão eucarística.
Os sacerdotes e o conselho
pastoral de cada paróquia, capela ou comunidade, devem estimular, promover e
assegurar o silêncio nas igrejas e espaços sagrados, durante todo o tempo, sobretudo nos momentos que antecedem e
sucedem as celebrações, quando os fiéis devem se recolher para a oração pessoal
e silenciosa.
O devido silêncio nas celebrações
e nos espaços sagrados é um direito inalienável do fiel que deve ser buscado e
promovido por todos. Que o silêncio sagrado, calar-se diante do Mistério,
motive e leve ao silêncio existencial de cada dia, quando paramos para ouvir a
Deus, pressuposto para falar com Deus na oração.
+ Tomé Ferreira da Silva
Bispo Diocesano de São José do
Rio Preto/SP
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