
Iluminados pela Palavra de Deus, proclamada e ouvida, convido-os a contemplar a pessoa de São José, à luz do Mistério Pascal, como membro da Sagrada Família, esposo da Bem-Aventurada Virgem Maria e pai custódio de Nosso Senhor Jesus Cristo, no contexto da realização do próximo Sínodo dos Bispos, que terá a família como foco.
Desde a origem, homem e mulher experimentam o encantamento um pelo outro. Diz a Sagrada Escritura, no livro do Gênesis: “Da costela tirada do homem, o Senhor Deus formou a mulher e apresentou-a ao homem. E o homem exclamou: ‘Desta vez sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada humana porque do homem foi tirada.’ Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne”(Gn 2, 22-24).
A reação do homem diante da beleza da mulher suscita nele uma exclamação, fruto de um êxtase, de um maravilhamento. O mesmo enlevo deve ter sentido a mulher diante do homem. A unidade simpática que se estabelece entre os dois é indescritível, profunda, essencial, dita aqui com a expressão “uma só carne”, que fala de algo materialmente impossível para ilustrar quão intenso e profundo é o sentimento que se estabelece entre os dois: o homem olha a mulher e se vê nela; a mulher olha o homem e se vê nele.
O encantamento humano entre o homem e a mulher é sagrado, coisa santa, desejado por Deus, merecedor de um livro na Bíblia, feito poesia no Cântico dos Cânticos. Ouçamos um único exemplo: o homem canta, “Como o lírio entre espinhos, assim é minha amada, entre as moças”; canta a mulher, “Como a macieira entre as árvores dos bosques, assim é o meu amado, entre os moços”(Ct 2, 2-3).
O evangelho proclamado fala de uma família, a “Sagrada Família de Nazaré”, que nasce da união entre José e Maria, e um filho que é obra da ação do Divino Espírito Santo. O que foi criado por Deus no início, o amor entre um homem e uma mulher, é santificado na Sagrada Família, desejada e formada para acolher a Deus mesmo em sua humanidade.
A família formada pelo esposo, esposa e filhos, não é uma contingência ou acidente histórico, uma criação cultural, é parte constitutiva do projeto de Deus para a pessoa humana, condição para a sua felicidade. As raízes desta família não se assentam no mundo e na história, estão fincadas no coração de Deus, é um mistério.
Durante sua vida, com sua ação e palavra, Nosso Senhor Jesus Cristo eleva a família assim constituída em sacramento, sinal de salvação. Ele afirma: “Nunca lestes que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher e disse: ‘Por isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois formarão uma só carne?’ De modo que eles já não são dois , mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe”(Mt 19, 4-6).
A fragilização e fragmentação do modelo divino de família, compromete o presente e o futuro da Igreja e da sociedade, afetando gravemente a natureza e missão de cada uma delas. Muitos dos males que experimentamos hoje, como a violência, a indisciplina generalizada, a drogadição desenfreada, o desrespeito pelo outro, o esquecimento de valores essenciais para uma sadia convivência, a corrupção, o abandono da fé em Nosso Senhor Jesus Cristo, e o consequente comprometimento na transmissão desta mesma fé a outras gerações, o distanciamento da dimensão comunitária da fé, nas comunidades e paróquias, entre tantos outros males, podem ser ecos de famílias desestruturadas ou em processo de desintegração.
Urge propor e educar as novas gerações, adolescentes e jovens, para a beleza e dignidade do matrimonio cristão e da vida familiar conforme o projeto de Deus. É preciso restaurar e propor-lhes o namoro e o noivado, a serem vividos como uma escola para o matrimônio e a vida famíliar, condições necessárias para que uma família seja constituída de modo estável e capaz de resistir às muitas intempéries e tentações que assolam a vida conjugal e familiar neste terceiro milênio.
A contemplação de São José, sustentado na moldura da Sagrada Família, nos convoca a sermos missionários do casamento cristão e da família cristã na sociedade hodierna. Isto não poderá ser feito, ou não terá consistência, se não ajudarmos as pessoas a recuperarem a dimensão metafísica e transcendental da vida, se não fizerem uma experiência de Deus, se não acolherem Nosso Senhor Jesus Cristo como Salvador, se não forem conduzidos e introduzidos à vivência comunitária da fé, nos grupos, comunidades e paróquias.
Estamos envolvidos na preparação do próximo Sínodo, a ser realizado em outubro do ano em curso, que tem como tema: “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”. É neste contexto, e com as bênçãos desejadas de São José, que realizaremos neste sábado e domingo, em São José do Rio Preto, o Congresso sobre Família, com o mesmo tema “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo.”
Não deixemos de propor e repropor, insistentemente, aos adolescentes e jovens, o sacramento do matrimônio e a família cristã como vocação, uma resposta a ser dada a um chamado de Deus. Só assim serão felizes e contribuirão para o bem da Igreja e da sociedade.
“Jesus, Maria e José, nossa família vossa é!”
+ Tomé Ferreira da Silva
Bispo Diocesano de São José do Rio Preto/SP
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