A natureza tem os seus ciclos:
outono, inverno, primavera e verão. Na infância, aprendi com meu pai que quanto
mais intenso o inverno, melhor seriam as colheitas, pois as geadas purificavam
a terra. No ciclo da liturgia, a quaresma é como o inverno, forma o nosso
coração.
No devocionário ao Sagrado
Coração de Jesus, encontramos uma invocação: “Fac cor nostrum secundum cor tuum
– Fazei o nosso coração semelhante ao vosso.” A pedagogia quaresmal, se bem
vivida, forma o nosso coração para ser semelhante, na santidade, ao coração de
Nosso Senhor Jesus Cristo.
“É agora o momento favorável, é
agora o dia da salvação”(1Cor 6, 2b). A quaresma é o tempo da graça,
oportunidade boa para deixarmos Deus fazer conosco o que Nosso Senhor Jesus
Cristo fez com o Apóstolo Pedro na Última Ceia (cf Jo 13,8). Afirma o Papa
Francisco na sua mensagem para a quaresma deste ano de 2015: “O cristão é
aquele que permite a Deus revesti-lo da sua bondade e misericórdia, revesti-lo
de Cristo para se tornar, como Ele, servo de Deus e dos homens.”
Mais do que ação nossa, a
formação do coração à semelhança do Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo é obra
divina, fruto da atuação em nós do Divino Espírito Santo. Diz o Papa Francisco:
“A Quaresma é tempo propício para nos deixarmos servir por Cristo e, deste
modo, tornarmo-nos como Ele.”
Nosso coração sofre a tentação de
uma dupla indiferença, para com Deus e para com o próximo. A formação do
coração, durante a quaresma, quer ser uma oportunidade para curar o pecado da
indiferença em sua dupla face, na busca de um coração misericordioso como o de
Nosso Senhor Jesus Cristo.
O Papa Francisco nos diz: “Ter um
coração misericordioso não significa ter um coração débil. Quem quer ser
misericordioso precisa de um coração forte, firme, fechado ao tentador mas
aberto a Deus; um coração que se deixe impregnar pelo Espírito e levar pelos
caminhos do amor que conduzem aos irmãos e irmãs; no fundo, um coração pobre,
isto é, que conhece as suas limitações e se gasta pelo outro.”
O caminho para a cura do coração,
para sanar a indiferença, passa: pela escuta da Palavra de Deus, proclamada na
liturgia e através do método da Leitura Orante; pela recepção dos sacramentos,
sobretudo da Confissão e a Eucaristia; pela oração, pessoal e comunitária; pelo
jejum e penitência; e pelo exercício da caridade.
Sobre a oração, afirma o Papa
Francisco: “Podemos rezar na comunhão da Igreja terrena e celeste. Não
subestimemos a força da oração de muitos! A iniciativa 24 horas para o Senhor,
que espero se celebre em toda a Igreja – mesmo a nível diocesano – nos dias 13
e 14 de março, pretende dar expressão a esta necessidade de oração.” Para a
oração comunitária podemos fazer uso do exercício piedoso da Via Sacra e dos
encontros da Campanha da Fraternidade, que encontramos no subsídio oferecido
pela Diocese à Rede de Comunidades.
Sobre a caridade, exorta o Papa
Francisco: “Podemos levar ajuda, com gestos de caridade, tanto a quem vive
próximo de nós como a quem está longe, graças aos inúmeros organismos
caritativos da Igreja. A Quaresma é um tempo propício para mostrar este
interesse pelo outro, através de um sinal – mesmo pequeno, mas concreto – da nossa participação na
humanidade que temos em comum.” O fruto do nosso jejum e penitência, a nossa
esmola, podemos oferecer à Coleta da Campanha da Fraternidade, no dias 28 e 29
de março, em todas as celebrações da Missa.
+ Tomé Ferreira da Silva
Bispo Diocesano de São José do
Rio Preto/SP