
Vai se fortalecendo uma nova
cultura sobre a morte, fruto da concatenação de diversos elementos, às vezes
opostos, contraditórios e complementares.
Alguns não temem a morte, morrer e viver
são colocados no mesmo plano; outros desfiguram a crueldade da morte, tirando-a
do ambiente familiar, usando dos recursos da ciência e da estética; temos os
que morrem iluminados pela fé e cuja morte é experimentada, de algum modo,
pelos familiares; outros ainda desejam
e buscam a morte com meios próprios.
“Para mim, a vida é Cristo, e
morrer é lucro” (Fl 1,21). Há um modo cristão de morrer e de enfrentar o
mistério da morte. Desde o momento da concepção estamos maduros para morrer. Ao
viver, as pequenas fragilidades cotidianas, físicas, psíquicas e espirituais
sinalizam o horizonte da morte, como que antecipando-a de algum modo. Vamos
vivendo e morrendo. A experiência de viver em Cristo nos permite experimentar
que morrer aqui e agora, no cotidiano, é um caminho ascético para a
eternidade, o morrer é a porta que
permite passar definitivamente para a eternidade. Santa Terezinha do Menino
Jesus afirma: “Eu não morro, entro na vida.”
“Ora, Deus criou o ser humano
incorruptível e o fez à imagem de Sua própria natureza: foi por inveja do diabo
que a morte entrou no mundo, e experimentam-na os que são do seu partido” (Sb
2, 23-24). O ato de morrer é marcado pela presença do pecado em nós, morremos
do modo como morremos por causa do pecado. Espiritualmente, o modo como vivemos
determina o modo como morreremos. Como vivemos sob o influxo do pecado, o mesmo
ocorrerá com o morrer, morremos como pecadores, como pecadores arrependidos.
O Catecismo da Igreja Católica
afirma: “A morte é transformada por Cristo. Jesus, o Filho de Deus, sofreu
também a morte, própria da condição humana. Todavia, apesar de seu pavor diante
dela, assumiu-a em um ato de submissão total e livre à vontade de seu Pai. A
obediência de Jesus transformou a maldição da morte em bênção” (1009); “A novidade
essencial da morte cristã está nisto: pelo batismo, o cristão já está
sacramentalmente ‘morto com Cristo’, para viver de uma vida nova; e se morremos
na graça de Cristo, a morte física consuma este ‘morrer com Cristo’ e completa
assim a nossa incorporação a ele no seu ato redentor” (1010).
A liturgia da Igreja, no Prefácio
dos defuntos, afirma: “Senhor, para os que acreditam em vós a vida não é
tirada, mas transformada. E desfeito nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus,
um corpo imperecível.” São Francisco de
Assis canta: “Louvado sejais, meu Senhor, por nossa irmã a morte corporal, da
qual homem algum pode escapar. Ai dos que morrerem em pecado mortal, felizes
aqueles que ela encontrar conforme a vossa santíssima vontade, pois a segunda
morte não lhes fará mal.”
Devemos nos preparar para morrer,
pedir a Nossa Senhora que nos ajude na hora de nossa morte, entregar-nos a São
José, padroeiro da boa morte. O livro Imitação de Cristo aconselha: “Em todas
as tuas ações, em todos os teus pensamentos deverias comportar-te como se
tivesses de morrer hoje. Se a tua consciência estivesse tranquila, não terias
muito medo da morte. Seria melhor evitar o pecado que fugir da morte. Se não
estás preparado hoje, como o estarás amanhã?”
Belas e consoladoras são as palavras
de uma oração realizada durante o rito da Unção dos Enfermos, após a absolvição
dos pecados e a Comunhão Eucarística, o viático: “ Deixa este mundo, alma
cristã, em nome do Pai todo-poderoso que te criou, em nome de Jesus Cristo, o
Filho de Deus vivo, que sofreu por ti, em nome do Espírito Santo que foi
derramado em ti. Toma o teu lugar hoje na paz, e fixa tua morada com Deus na
santa Sião, com a Virgem Maria, a Mãe de Deus, com São José, os anjos e todos
os santos de Deus (...) Volta para junto do teu Criador que te formou do pó da
terra. Que na hora em que a tua alma sair do teu corpo, se apressem a teu
encontro Maria, os anjos e todos os santos. (...) Que possas ver o teu Redentor
face a face (...)”.
No dia de finados, crendo nos
mistérios da comunhão dos santos, na vida eterna e na ressurreição da carne,
rezemos a Deus pelos mortos. A melhor oração é a participação na Santa Missa.
+ Tomé Ferreira da Silva
Bispo Diocesano de São José do
Rio Preto/SP
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