“Francisca de Paula de Jesus, Nhá
Chica, nasceu em Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno – São João del-Rei
(MG). É filha de mãe escrava e, supostamente, pai branco. Aos 26 de abril de
1810, recebeu o Sacramento do Batismo, na capela do distrito onde nasceu. Foram
seus padrinhos: Ângelo Alves e Francisca Maria Rodrigues.
Com 8 anos de idade, veio para
Baependi (MG) acompanhada da mãe, dona Maria Isabel, e do irmão Theotônio
Pereira do Amaral, morando, assim, os três em uma casinha no alto da colina. O
referido lugar, alguns anos mais tarde, ganhou o nome de Rua da Conceição e a
casa, onde viveu Nhá Chica, foi conservada através das décadas, até os dias
atuais e tem o nº 165.
Quando a pequena Francisca tinha
apenas 10 anos de idade, sua mãe faleceu deixando aos cuidados de Deus e da
Virgem Maria aquelas duas crianças: Nhá Chica com 10 anos e Theotônio com 12.
Órfãos de mãe, sozinhos no mundo, aqueles meninos cresceram sob os cuidados e a
proteção de Nossa Senhora que, pouco a pouco, foi conquistando o coração de Nhá
Chica. Esta a chamava carinhosamente de “Minha Sinhá” que quer dizer: “Minha
Senhora”, e nada fazia sem primeiro consultá-la.
Nhá Chica soube administrar muito
bem e fazer prosperar a herança espiritual que recebera da mãe. Nunca se casou.
Rejeitou com liberdade todas as propostas de casamento que lhe apareceram. Foi
toda do Senhor. Se dava bem com os pobres, ricos e com os mais necessitados.
Atendia todos os que a procuravam, sem discriminar ninguém e para cada um tinha
uma palavra de conforto, um conselho ou uma promessa de oração. Ainda muito
jovem, era procurada para dar conselhos, fazer orações e dar sugestões para
pessoas que lidavam com negócios. Muitos não tomavam decisões sem primeiro
consultá-la e, para tantas pessoas, ela era considerada uma “santa”, todavia,
em resposta para quem quis saber quem realmente era, respondeu com
tranquilidade: “...nunca fiz milagres: eu rezo à Nossa Senhora, que me ouve e
me responde; é por isso que posso responder com acerto quando me consultam e
afirmo o que digo.” As coisas acontecem “...porque eu rezo com fé”.
Sua fama de santidade foi se
espalhando de tal modo que pessoas de muito longe começaram a frequentar
Baependi para conhecê-la, conversar com ela, falar-lhe de suas dores e
necessidades e, sobretudo, para pedir-lhe orações. Atendia a todos com a mesma
paciência e dedicação, mas nas sextas-feiras não atendia a ninguém. Era o dia
que lavava as próprias roupas e se dedicava mais à oração e à penitência. Isso
porque sexta-feira é o dia que se recorda a Paixão e a Morte de Nosso Senhor
Jesus Cristo para a salvação de todos nós. Às três horas da tarde,
intensificava suas orações e mantinha uma particular veneração à Virgem da
Conceição, com a qual tratava familiarmente como a uma amiga.
Nhá Chica era analfabeta, pois
não aprendeu a ler nem a escrever. Desejava somente ler as Escrituras Sagradas,
mas alguém as lia para ela e a fazia feliz. Compôs uma Novena à Mãe de Deus e
em Sua honra construiu, ao lado de sua casa, uma capela, onde era venerada uma
pequena Imagem de Nossa Senhora da Conceição, que era de sua mãe e diante da
qual rezava piedosamente por todos aqueles que a ela se recomendavam. Essa
imagem, ainda hoje, se encontra na casinha onde ela viveu, sobre o altar da
antiga Capela.
(...)
Ao longo dos anos, a “Igreja de
Nhá Chica” passou por algumas reformas e, atualmente, é o “Santuário Nossa
Senhora da Conceição” que acolhe peregrinos de todo o Brasil e de diversas
partes do mundo. Muitos fiéis que o visitam fazem seus pedidos e, depois de um
tempo, voltam para agradecer e registrar as graças recebidas.
Nhá Chica morreu no dia 14 de
junho de 1895, aos 87 anos de idade, mas foi sepultada somente no dia 18, no
interior da Capela por ela construída. As pessoas que ali estiveram sentiram
exalar de seu corpo um misterioso perfume de rosas durante os quatro dias de
seu velório. Tal perfume foi novamente sentido no dia 18 de junho de 1998, 103
anos depois, por autoridades eclesiásticas e por membros do Tribunal
Eclesiástico pela Causa da Beatificação de Nhá Chica e, também, pelos
pedreiros, por ocasião da exumação do seu corpo. Seus restos mortais se
encontram ainda hoje no mesmo lugar, no interior do Santuário Nossa Senhora da
Conceição, em Baependi, protegidos por uma urna de acrílico, colocada no
interior de uma outra urna de granito, onde são venerados pelos fiéis.”
(Texto da Irmã Gertrudes das Candêias)
+ Tomé Ferreira da Silva
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