As palavras evoluem,
adquirem novos sentidos, são polissêmicas. Muitas palavras são analógicas,
identificam realidades diferentes, mas que possuem algo em comum. É o caso da
palavra família. Ao longo da história ela identificou realidades diferentes,
como hoje, quando encontramos uma diversidade de nucleação de pessoas, todas
denominadas de família.
Há tempos atrás se falava
que os jovens paqueravam, namoravam, casavam e constituíam família. De alguns
anos para cá, a paquera e o namoro assumiram novas roupagens e foram
identificados com a expressão “to ficando”. Nas redes sociais, na
página do perfil, a pessoa coloca alguns elementos para que seja identificada,
na grande maioria aparece a expressão “ estou em
um relacionamento sério”.
O que é um “relacionamento sério?" Seria o namoro, o noivado, o casamento,
o estar ficando, estar morando juntos, uma “amizade colorida”,
estar tendo uma vida sexual ativa, mesmo sem o casamento civil e ou religioso?
Não é apenas uma questão de terminologia, mas ocorre de fato uma nova
compreensão da família e do modo de preparar-se para a sua formação.
O Cristianismo, no
seguimento dos passos e do ensinamento de Jesus Cristo, compreende a família
humana como realidade sagrada que, em última instância, sinaliza no mundo a
vida da Santíssima Trindade, bem como a relação de amor entre Deus e a pessoa
humana, que tem o seu ponto máximo no Mistério da Encarnação de Nosso Senhor
Jesus Cristo. A natureza da família não é uma construção histórica, mas é dom
de Deus.
Veja o ensino de Jesus
Cristo: “Nunca lestes que o Criador, desde o princípio, os fez homem e
mulher e disse: Por isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e
os dois formarão uma só carne? De modo que eles já não são dois, mas uma só
carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe”(Mt
19, 3-6). Na compreensão de Jesus Cristo, dois elementos fazem parte do
casamento: unidade no amor e indissolubilidade. É dentro deste contexto que
deveriam nascer os filhos.
A vida em família é uma
vocação. E como vocação, a família pode não ser compreendida e vivida ao modo
de Jesus Cristo por todos, pois pressupõe a vida de fé: conhecimento, amor e
seguimento a Ele e ao que nos ensinou e deixou nos sacramentos. Se aplica também à vida em família a sua palavra: “Nem
todos são capazes de entender isso, mas só aqueles a quem é concedido”(Mt
19, 11).
A proposta da vida em
família Deus a oferece a todos. Mas nem todos podem
acolhê-la, pois não a conhecem e não a experimentaram seja na infância ou na juventude.
Há uma premente necessidade de ajudar as crianças, adolescentes e jovens na
compreensão da natureza da família e a darem os passos adequados para a sua
formação que, apesar da antiguidade dos nomes, continuam sendo a paquera, o namoro,
o noivado e o casamento, este civil e religioso.
As novas terminologias
não designam realidades sinônimas da família cristã. Não é só mudança de
termos, mas elas carregam consigo a proposição de outros paradigmas familiares.
No encerramento da Semana
da Família, somos convidados a tornar pública, numa ação missionária
ininterrupta, a família cristã como paradigma, referência,
para nossas crianças, adolescentes e jovens. Este é um pressuposto para
que tenhamos famílias que sejam de fato “Igreja Doméstica”, concepção
teológica esquecida hoje da própria teologia e da ação pastoral.
Somente na família como
Igreja Doméstica pode ocorrer a primeira experiência
de transmissão e vida comunitária da fé, antes que seja tarde, núcleo basilar
para compreender o Povo de Deus, o Corpo Místico de Cristo e a paróquia como comunidade de comunidades. Do contrário, estaremos
construindo sem bases sólidas, construção que não resiste aos tempos neomodernos.
+ Tomé Ferreira da Silva
Bispo Auxiliar de São
Paulo.
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