Parabéns, mãe!
“Multiplicarei os sofrimento de tua
gravidez. Entre dores darás à luz os filhos.”(Gn 3,16a). A maternidade é uma experiência de dor e
sofrimento.
O sofrimento é humano, faz parte de nossa
condição natural, revela nossa fragilidade. Ele pode ser físico, psicológico e
espiritual. Enquanto o primeiro está indissociavelmente ligado ao nosso corpo,
os dois outros vinculam-se à nossa alma e se relacionam
também, não só, com as escolhas que fazemos ao longo da vida, podem ser frutos
do uso que fazemos da liberdade.
O homem nunca lidou bem com o sofrimento,
sempre procurou meios para suprimi-lo ou amenizá-lo. O uso de elementos da
natureza, produtos desenvolvidos ou aperfeiçoados em laboratório, terapias de
todo tipo, a recorrência a elementos sobrenaturais, nada ainda foi capaz de
livrar em definitivo a pessoa do ato de sofrer.
O sofrimento se manifesta também na dor,
que também pode ser somática e psíquico-espiritual. Como fruto do sofrimento,
também a dor não é suportada. Combater o sofrimento e a dor não é um mal em si,
mas também não pode tornar-se uma obsessão, o que seria ignorar que são
inerentes ao humano.
A maternidade, também a paternidade, está
de algum modo associada ao sofrimento e à dor. Gerar, deixar nascer, criar e
educar a prole não se faz sem experimentar o sofrimento e a dor, nas suas
múltiplas manifestações.
A exacerbação da ojeriza contra o
sofrimento e a dor pode levar à insensibilidade diante de outras pessoas que
vivem e convivem conosco, independentemente de sua idade, isto é, da quantidade
de sua existência no tempo.
A destruição do outro para preservar meu
bem estar, ou para eliminar meu sofrimento e dor, é algo abominável, pois não é
possível estabelecer uma hierarquia diante de duas existências, uma vida humana
não vale mais do que outra.
O exercício da maternidade, também da
paternidade, implica saber conviver com o sofrimento e a dor, sejam quais forem
as suas manifestações concretas. A paciência é expressão do amor: “O amor é
paciente, é benfazejo; não é invejoso, não é presunçoso nem se incha de orgulho;
não faz nada de vergonhoso, não é interesseiro, não se encoleriza, não leva em
conta o mal sofrido; não se alegra com a injustiça, mas fica alegre com a
verdade. Ele desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo.”(1Cor 13, 4-7)
Não saber esperar, não ter paciência com o
desenrolar natural da vida de outra pessoa, é sinal da mais grave crise do
humano, a falta de amor, pois ninguém é incapaz de amar. Não amar é doença
gravíssima que atinge o corpo, a alma e o espírito e urge de premente tratamento
para não deixar de ser humano. É possível tratar-se fundado na misericórdia de
Deus que deseja não a morte, mas a conversão do pecador.
Obrigado às mães que sofrem e assumem a dor
da maternidade. Obrigado às mães que são pacientes e sabem esperar, respeitando
o outro que gera, traz ao mundo, cria e educa, independentemente do tempo do
desenrolar de sua existência. Estas mães são profetisas do nosso tempo. Deus as
abençoe!
+ Tomé Ferreira da Silva.
Bispo Auxiliar de São Paulo.
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