INTRODUÇÃO.
Vislumbramos no horizonte
o Tríduo Pascal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Para ele caminharemos com o tempo da quaresma, que iremos começar
nesta quarta-feira, de cinzas; para nós, um dia de jejum e abstinência. Será
também o início da Campanha da Fraternidade, no Brasil, com o tema “ Fraternidade e Saúde Pública”, e o lema
“Que a saúde se difunda sobre a terra”(Eclo
38,8).
Em pleno carnaval
brasileiro, aqui nos encontramos na aprazível “Paróquia Mãe de Deus e dos
Órfãos”, neste bairro Vila Rica, na simpática e promissora cidade e
diocese de Santo André, para rezarmos a Eucaristia Dominical, no Dia do Senhor,
e nela realizar a Ordenação Diaconal de nosso Irmão
Vicente, religioso da Congregação dos Clérigos Somascos.
Deus seja louvado!
EVANGELHO
A página do Evangelho de
São Marcos que ouvimos apresenta Jesus Cristo Ressuscitado no momento que
antecede a sua ascensão ao céu. Nesta oportunidade, Ele confia aos discípulos o
mandato missionário “Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda
criatura”(Mc 16, 15).
Falando com os
discípulos, Jesus Cristo aponta o batismo e a fé como fontes de salvação. Ao
mesmo tempo, explicita os sinais que acompanharão a atividade dos missionários:
expulsarão demônios, falarão novas línguas, serão protegidos dos animais e de venenos, curarão os
doentes.
Ao mesmo tempo, o
evangelista, encerrando o seu Evangelho, afirma: “Então os discípulos
foram anunciar a Boa Nova por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua
palavra pelos sinais que a acompanhavam”(Mc 16, 20).
No relato do Evangelho
que ouvimos há uma clara comprovação da eficácia da Palavra de Deus, Ela
realiza o que enuncia.
PRIMEIRA LEITURA
O texto da Primeira
Leitura apresenta-nos a vocação do Profeta Jeremias,
destacando três elementos: a ação de Deus que chama e envia o profeta, uma
história com início antes de seu próprio nascimento; a reação do profeta que
recorda a sua juventude e a sua falta de fluência no falar; a promessa da
assistência de Deus que virá em socorro da fragilidade do profeta.
SEGUNDA LEITURA
Os versículos lidos na
segunda leitura, da Primeira Carta de Pedro, falam da vigilância, da oração, da
caridade e do perdão dos pecados, da hospitalidade, da necessidade de colocar a
serviço dos outros os dons recebidos de Deus.
O FUNDADOR: SÃO JERÔNIMO EMILIANO.
O Fundador dos Padres Somascos, São Jerônimo Emiliano(1486-1537),
patrono dos órfãos e da infância abandonada, viveu um tempo de desafios para a
Igreja, era tempo de reconstruir, de realizar a Reforma Católica. Militar,
convertido na prisão, ajudado pela proteção de Nossa Senhora, torna-se um seu
servidor, na assistência aos enfermos, aos jovens abandonados e às mulheres
convertidas.
REFLEXÃO.
Pelo batismo, a graça
maior, somos Filhos de Deus, amigos de Jesus Cristo, seus discípulos e
missionários do século XXI. A missão outrora confiada aos discípulos, de ir ao
mundo inteiro anunciar a Boa Nova a todas as pessoas, é minha, é sua, é nossa.
Embora nos sintamos como Jeremias, despreparados para a Missão, Jesus Cristo nos
garante a assistência do Espírito Santo. É por Ele que temos assegurado o êxito
do empenho que nos é solicitado. Não estou sozinho, Deus está comigo, Ele me
assiste na realização de sua Vontade.
Os dons com os quais Deus
nos cumula são para o bem do seu povo, da Igreja. Nada do que somos e temos nos
pertence, somos apenas administradores das riquezas que Deus coloca em nossa
vida.
Como São Jerônimo
Emiliano, que não se ateve a dizer o que os outros deviam fazer, mas fez,
devemos ser fiéis de ação, pragmáticos, com menos palavras e teorias, com mais
obras que demonstrem a presença do Reino de Deus no mundo e na história.
PALAVRA AO CANDIDATO A
DIÁCONO.
Irmão Vicente, hoje a
Igreja, confiando na palavra de sua congregação, dos Padres Somascos,
e na formação que ela lhe ofereceu, chama-o para o sacramento da ordem, no grau
do diaconato.
A vocação ao ministério
ordenado é sempre um mistério. Viveremos cinqüenta, sessenta anos de ministério
e ainda não teremos 100% de clareza da graça de Deus que nos envolve. Tudo é
graça, tudo é mistério, seja na vida do diácono, do padre ou do bispo.
Agora, como um fiel
diácono, o Senhor deverá viver a missão outrora confiada por Jesus Cristo aos
discípulos, antes de sua ascensão ao céu: ir a todos os lugares do mundo para
levar a salvação de Deus. E São Jerônimo assinala-lhe que, entre todas as
pessoas destinatárias desta salvação, você deverá dar uma atenção singular para
os doentes, as crianças, os jovens abandonados e aos convertidos.
A Igreja no mundo, hoje,
vive em estado de missão, basta recordar os resultados da Vª
Conferência Geral dos Bispos da América Latina e Caribe
acontecida em Aparecida. Nossos ministérios ordenados, dos quais somos
apenas administradores, e não donos, só serão plenificados
se formos missionários, não de palavra, mas como São Jerônimo, agindo, indo ao
encontro dos que Deus coloca ao longo do nosso caminho.
Como Diácono, no serviço
do Altar, na administração dos Sacramentos, no exercício da Caridade, na
pregação da Palavra, o Senhor possa inspirar-se na vida dos Diáconos São
Lourenço e Santo Efrém, figuras ímpares que fazem o
diaconato transluzir na Igreja.
No seguimento a Jesus
Cristo, casto, pobre e obediente, o celibato vivido na fé, o empobrecimento
voluntário e a obediência ao bispo e aos seus superiores, se constituirão em
caminho de santidade e a melhor preparação possível para ser padre, se para
esta graça a Igreja chama-lo daqui a algum tempo, e é o que esperamos em nosso
coração.
CONCLUSÃO
Em nossos dias, em
qualquer lugar que estivermos, não faltam pessoas
sedentas da Palavra de Deus que precisam e esperam para serem missionadas; não faltam empobrecidos e enfermos a serem
amados; crianças e jovens abandonados a serem assistidos e conduzidos ao
conhecimento, ao amor e seguimento de Jesus Cristo. Não há maior caridade
possível para com nossas crianças e jovens do que dar-lhes Jesus Cristo; ou, se
preferirmos, conduzi-los a Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida.
Muitos, muitíssimos destes
jovens e crianças esperam agora pela vida e ação do Diácono Vicente. Deus não o
quer, e a Igreja não o faz diácono, para que fique
alguns meses esperando para ser ordenado padre, na comodidade da sacristia, da
igreja, da meia dúzia de pessoas que nos cercam ordinariamente. Você é enviado
ao mundo, às pessoas, para mostrar a todos o amor e a
misericórdia de Deus, que transbordam para nós na pessoa de Jesus
Cristo. E como Ele, você também não é feito diácono hoje para ser servido, mas
para servir.
São
especialmente para você o último versículo da segunda leitura: “Se alguém
tem o dom de falar, fale como se fossem palavras de Deus. Se alguém tem o dom
do serviço, exerça-o como capacidade proporcionada por Deus, a fim de que, em
todas as coisas, Deus seja glorificado, por Jesus Cristo, a quem pertencem a
glória e o poder, pelos séculos dos séculos. Amém”(1Pe 4, 11).
Que Nossa Senhora, Mãe de
Deus e dos Órfãos, e São Jerônimo Emiliano, estejam ao seu lado na vivência do
ministério diaconal que hoje lhe é confiado pela
Igreja. Um dia o Senhor poderá ser padre, mas a mística do diaconato não deverá
desaparecer. Caso isto venha a ocorrer, correr-se-á o risco de uma vida
sacerdotal sem unção.
+ Tomé Ferreira da Silva
Bispo Auxiliar de São
Paulo
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