Temos presente em nossa oração os 25 anos
de vida presbiteral, uma fidelidade amorosa, de nosso
amigo e pároco, Pe. Antônio Aparecido dos Santos, o
nosso Padre Toninho. Com ele dizemos a Deus o que rezamos na oração de coleta
desta Missa: “Senhor nosso Deus, somos servos indignos e reconhecemos com
tristeza as nossas faltas”. Também com ele cantamos com o salmista: “Eu te
exalto, Senhor, porque me livraste, não deixaste meus inimigos se rirem de mim.
(...) Transformaste o meu luto em dança, Senhor, meu Deus, eu vou te louvar para
sempre”(Sl
29).
Nossa presença aqui, nesta noite, é o
reconhecimento de que na corda bamba da vida, o sim pronunciado pelo Padre
Toninho, ao longo destes 25 anos, tem o preço de muitos nãos. Com ele, agradecemos a Deus que o sustenta na vida
presbiteral, mas reconhecemos o esforço pessoal que
ele faz para ser o que é e fazer o que faz na Igreja e em nosso
País.
1ª Leitura:
O Profeta Oséias usou a imagem do
matrimônio para falar do amor fiel de Deus a seu povo e da infidelidade do povo
ao amor de Deus. O texto de Isaías que ouvimos (Is 54, 1-10) é uma profecia de
consolação que mostra a ternura de Deus que não esquece sua promessa e tudo faz
para reconduzir a si o povo que o abandonou. O contexto deste texto é o fim do
exílio na Babilônia e a reconstrução da vida em
Jerusalém.
O Profeta Isaías “proclama com um hino de
alegria que finalmente chegou o tempo da reconciliação entre a esposa adúltera e
seu esposo ( vv. 1.5 ). Acabou o tempo do sofrimento e
da vergonha ( vv. 4.6 ), para dar lugar a um período de grande prosperidade e
fecundidade ( v. 2 ), fruto do amor reencontrado.”
No contexto da História da Salvação, o texto ( vv.
3.5.9 ) permite entrever uma extensão universal da profecia apontando a redenção
realizada por Jesus Cristo, que concretiza o desejo de Deus de salvar a todos os
povos ( v. 10; cf Gl 4,
26-27 ).
Evangelho:
No Evangelho, Jesus Cristo retoma um texto
do profeta Malaquias ( 3,1): “Eis que eu envio meu
mensageiro à tua frente, ele preparará o teu caminho diante de ti”, para falar
da natureza do profetismo de João Batista, “o maior
entre os nascidos de mulher”. Ao explicitar a natureza da pessoa e da ação
profética de João, o Batista, Jesus Cristo revela sua própria natureza e a de sua
ação salvadora. “João era o mensageiro, o batedor, o anjo que anunciava a nova
ordem, mas Jesus é Deus em pessoa que vem realizar o seu plano de salvação do
mundo”.
Meditação:
Os nossos dias e o modo de ser e agir dos
filhos e filhas de Deus, não são tão diferentes dos
vividos pelo Povo de Deus no tempo do Profeta Isaías e no início da vida pública
de Jesus Cristo, que coincide com o término do ministério profético de João, o
Batista. Nossa vida cristã não é um romance, um documentário, uma comédia ou uma
tragédia, mas um drama que se desenvolve entre o amor fiel e misericordioso de
Deus e nossas quedas de infidelidade diante das muitas e prósperas tentações a
que nos encontramos sujeitos. Por isso, podemos rezar com o salmista: “Sua ira
dura um momento, seu favor a vida inteira; de tarde vem o pranto, de manhã
gritos de alegria” ( Sl 29
).
Não consideramos São João Batista como um
entre os outros profetas do Antigo Testamento. Na linha profética, Ele é a
testemunha de Jesus Cristo, que o identifica como “o facho que arde e
ilumina”( Jo 5, 35
).
Jesus Cristo não é apenas um profeta, como
é considerado por outras religiões. Ele é a realização das profecias, o profeta,
por excelência, que constrói com sua vida, ação e ensinamento o caminho de
acesso a Deus Pai, salvando a pessoa humana e possibilitando-lhe dirigir-se a
Deus e tê-lo como Pai.
É na identificação com Jesus Cristo, tendo
consciência do dom recebido, que o presbítero exerce o tríplice múnus de
governar, santificar e ensinar. São três dimensões intrínsecas
e inseparáveis do profetismo de Jesus Cristo que Ele
quis compartilhar com aqueles que ele chama para a vida sacerdotal. Para
o padre, não é possível governar sem santificar e ensinar; não é possível
santificar sem governar e ensinar; não é possível ensinar sem governar e
santificar. Ao realizar um múnus realiza também os outros dois. Fazendo bem um,
fará igualmente bem os demais.
Embora secularizado, imanentista e relativista, nosso mundo é pródigo em
profetas, os temos de toda espécie, ao gosto do freguês. É possível até
encontrar, sem muita dificuldade, o que exerce a profecia como anti-profeta.
Ao não levar a sério a compreensão do
magistério católico sobre o profeta, ao interno da fé cristã, também em nossa
Igreja, não é unívoca, entre teólogos e pastoralistas,
a compreensão da natureza e da missão do profeta. Uma pseudo-compreensão, a tentação do reducionismo, o influxo de
algumas correntes filosóficas sobre a teologia, deixam como possibilidade sempre
presente a vulgarização da atividade profética.
Conclusão;
Sim, o presbítero é profeta do Reino de
Deus. O Reino de Deus é
Mistério e Graça, pressupõe a acolhida e a resposta dos discípulos
de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele pressupõe a fé, dom de Deus oferecido a todos.
O Reino de Deus irrompe na história e acontece em Jesus Cristo. Ele não foi
instaurado completamente, o que só ocorrerá na Parusia, na manifestação gloriosa de Jesus Cristo no fim dos
tempos. Ele se desenvolve no mundo, na história e em nossa vida na medida e
proporção em que reconhecemos e acolhemos Jesus Cristo como Rei, Salvador e Senhor. Ele reina em nós, se
lhe damos a permissão e, por nosso intermédio, como membros de sua Igreja, Ele
reina no mundo e na história. Deste Reino, a Igreja é sinal e a ele deseja
conduzir os seus fiéis. È neste contexto e dinamismo que compreendemos o
presbítero como profeta do Reino de Deus.
Em nosso tempo, não bastará ao presbítero
falar conceitualmente do Reino de Deus, pois antes de ser conceito teológico é
realidade divina que se materializa no mistério da Encarnação, da Vida, Morte e
Ressurreição de Jesus Cristo. Requer do fiel não uma compreensão conceitual, mas
uma existência, um modo de ser, uma adesão livre e responsável, que será sempre
sustentada pela Graça.
Há uma necessidade premente de conduzir e
introduzir as pessoas no Mistério do Reino de Deus, o que somente será possível
com uma ação pastoral mistagógica. Pensar o presbítero
como profeta do Reino de Deus é pensá-lo como um mistagogo. Só assim a sua palavra não se perderá em meio a
tantas palavras, tantos profetas e tantos ruídos teológicos, pastorais,
sociológicos e psicológicos que proliferam na sociedade e na Igreja.
O agir profético pressupõe o ser profeta e
exige coragem missionária ao preço de oferecer a própria vida num martírio
cotidiano fazendo da existência uma oferenda agradável a Deus, na consciência de
que não somos só servos indignos, mas inúteis, pois o protagonismo é do Espírito Santo de Deus que conduz a
Igreja, moldura que sustenta o nosso presbiterado e profetismo.
Novamente com a oração da coleta de nossa
Missa, podemos rezar: “Senhor nosso Deus, dai-nos a alegria do advento do vosso
Filho que vem para nos salvar”. A antífona da comunhão desta missa nos exortará:
“Vivamos neste mundo com justiça e piedade esperando a feliz esperança, e o
advento da glória de nosso Deus”.
Corolário:
Querido Padre Toninho, como presbíteros
profetas numa Igreja Missionária, não nos contentemos de, na Igreja, cedermos à
tentação de ficar na defensiva, na retaguarda, transpirando cansaço, como se já
tivéssemos dado a nossa contribuição, sem querer mais correr e suar a camisa.
Também longe de nós a tentação do protagonismo do
ataque, de querer fazer facilmente os gools ou de
ainda sermos os donos da bola.
Querido Padre Toninho, não somos jovens
presbíteros nem presbíteros jovens. Vinte e cinco anos de presbiterado é o tempo
da maturidade, dos frutos abundantes, maduros e de boa qualidade. Na Igreja, nos
encontramos no meio de campo e precisamos, sem medo, com determinação,
simplicidade e astúcia, receber a bola e passá-la à frente, correndo todos os
riscos necessários construindo unidade e comunhão.
Querido Padre Toninho, somos
presbíteros
com o presbitério unido ao bispo. Para os nossos irmãos
presbíteros que vivem o outono da vida sejamos amparo e proteção. Para os jovens
presbíteros e presbíteros jovens sejamos estímulo e exemplo. Para nosso bispo,
se não amigos, sejamos apoio incondicional e obediência irrestrita. Para nossa
família sejamos causa de alegria e santo orgulho. Para o povo de Deus sejamos
profetas mistagogos, pastores bons a exemplo de Jesus
Cristo, o Bom Pastor.
Querido Padre Toninho, que ao longo dos
próximos vinte e cinco anos não lhe falte a terna e
materna proteção de Nossa Senhora e a intercessão de São Benedito, o padroeiro
desta afável, simpática e acolhedora paróquia. Deus lhe pague com as melhores
bênçãos do céu e com a realização dos justos desejos que o Senhor mais cultiva neste
momento, pelo que o Senhor é e faz por nós, o Povo de Deus, que o abraçamos
desejando-lhe felicidades, muitas,
incontáveis, inumeráveis.
+ Tomé Ferreira da
Silva.
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São
Paulo.
Confira fotos desta celebração:
Crédito das fotos: PASCOM (Paróquia São Benedito)